Número de casos disparou no estado em 2022. Polícia Civil prendeu receptador de aparelhos furtados nesta quarta-feira.
A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta quarta-feira um homem apontado como o “maior receptador de celulares do país”. O QG do grupo liderado pelo suspeito, chamado Amadou Diallo e natural de Guiné-Bissau, ficava na Rua Guaianases, na região central da capital paulista. A quadrilha praticava crimes que iam de golpes via Pix ao envio dos aparelhos para países da África.
Em São Paulo, o número de aparelhos roubados ou furtados aumentou 19,7% no ano passado, chegando a 346.518 ocorrências, de acordo com o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
— Faz alguns anos que esse tipo de ocorrência vem aumentando, principalmente furtos. Quando um ladrão rouba um transeunte, ele não tem dinheiro, ninguém anda mais com dinheiro na rua, e o cartão de crédito pode ser bloqueado na hora. Já o celular é um bem móvel que custa caro, que tem uma saída fácil. Se alguém rouba um carro, como comparação, esse ladrão precisa circular com ele, corre um risco maior. Já o celular ele guarda no bolso, na mochila. O criminoso se sente mais seguro porque não precisa “dar bandeira” — explica o analista criminal Guaracy Mingardi, membro do FBSP.
Quem tem o celular roubado ou furtado, em muitos casos, acaba tendo dor de cabeça por vários meses depois do crime. A administradora Fernanda Machado, de 26 anos, teve seu iPhone 11 levado por um homem em uma noite de outubro de 2021, em uma área movimentada de Pinheiros, Zona Oeste da cidade.
Ela conta que tentou de imediato cancelar o acesso às suas contas bancárias e redes sociais, tomando emprestado o aparelho de um amigo, mas não conseguiu concluir esses procedimentos porque as mensagens para confirmar as operações foram enviadas para o celular que havia sido roubado. Só conseguiu mudar as senhas do banco no dia seguinte.
Passada uma semana, Fernanda recebeu um SMS do Bradesco pedindo para ela avaliar o processo para contratação de crédito pessoal. Descobriu que alguém havia feito dois empréstimos, no valor total de R$ 17.500, poucas horas após o roubo em Pinheiros, antes que ela pudesse ligar para a operadora e bloquear o aparelho.
Fernanda tentou cancelar os contratos, mas o banco negou, sob a alegação de que o caso não se tratava de uma falha de segurança do aplicativo. Ela passou a ter valores descontados de seu salário e entrou com reclamação no Banco Central e com um processo na Justiça. Conseguiu só em maio do ano passado uma sentença determinando a devolução dos valores que foram retidos pelo banco. O pagamento, no entanto, ainda não chegou às suas mãos.
— Todo o processo com o banco talvez tenha sido até pior do que a parte de ser roubada. A todo tempo dificultaram a chance de resolver isso. Depois que comprei um novo celular, desabilitei a função de reconhecimento facial, não uso mais para nada. Passei também a ter senhas diferentes para cada banco, adicionei um e-mail que não tenho acesso pelo celular para recuperar senhas e um contato de confiança para essas coisas. Tirei todos os aplicativos de bancos do celular, agora só faço Pix em casa. Ter o celular roubado é um caos. A sua vida inteira está lá — diz Fernanda.
Para o especialista em tecnologia Arthur Igreja, a decisão de adotar um e-mail que não está habilitado no celular para recuperar senhas é acertada. Ele recomenda que, em caso de furto ou roubo, a pessoa se preocupe em acionar imediatamente a operadora para habilitar um chip novo com o mesmo número. Dessa forma, aplicativos vinculados a esse número (como o WhatsApp) deixam de funcionar no aparelho que está em posse de um criminoso, que também não conseguirá receber senhas provisórias enviadas por SMS.
— Não existe solução perfeita. A pessoa tem que dosar entre o que trará segurança e o que reduzirá o grau de praticidade na sua vida, como a ideia de excluir os aplicativos de bancos, que é uma medida extrema. Uma opção melhor é evitar deixar grandes valores na conta corrente e alocá-los em alguma aplicação que não permita a retirada imediata, por exemplo. É preciso pensar em formas complementares para se proteger — diz o especialista.
Em nota, o Bradesco informou que orienta clientes que perderam seus aparelhos a entrarem em contato com o banco “o quanto antes” para que seja feito o bloqueio das senhas e da chave de segurança. Acrescentou que realiza campanhas publicitárias e envia alertas frequentes ensinando procedimentos de segurança.
Fonte: O Globo